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Como conversar com mulheres

Hoje o texto vai para aqueles rapazes que chegam em uma festa e não sabem como se aproximar desses exóticos exemplares da espécie humana: mulheres. Vai para os homens que, em uma fila de banco ou no ambiente de trabalho, não conseguem estabelecer diálogo algum com essas misteriosas criaturas. Ah, mulheres… Só de ler esta palavra, logo somos transportados para um mundo repleto de seres fantásticos e cheios de segredos. Mulheres! Figuras mágicas, divinas e, por vezes, inconstantes. Como entender o que se passa na cabeça dessa complicada parcela da população? O que será que tais mentes arquitetam, quando não estão pensando em batom, novela ou em comprar uma bolsa nova?

Quem nunca se sentiu paralisado diante da beleza feminina que atire a primeira pedra: lindos cabelos com produtos químicos, cílios postiços, seios com silicone… Todos amam a mulher do jeito que ela é! E chegar mais perto de uma delas para trocar uma ideia sempre pode ser, com certeza, muito interessante – desde que a escolhida seja loira, magra, não tenha muitas opiniões e esteja louca para transar, claro. Afinal, você não quer perder o seu tempo, não é mesmo?

Mulheres! Com certeza são a projeção real de suas fantasias, obtidas após muitos filmes, propagandas e sites obscuros acessados na calada da noite – com o volume no mute para a vizinhança não desconfiar de seus hábitos cotidianos. Portanto, venho aqui com o intuito de ser o facão que irá abrir a mata fechada que te impede de caminhar para perto das gatas. E trago boas notícias: adentrar o estranho universo feminino é mais simples do que parece. Quer saber o que você deve fazer para conversar com uma mulher?

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Tcharam! Fácil, né? Mulher não é nenhum extraterrestre não, ou. Se você encontra problemas para conseguir falar com uma, não é porque somos difíceis de compreender. O mais provável é que os seus valores relacionados ao sexo feminino sejam tão deturpados, que você realmente acredite que exista um protocolo específico para lidar com a gente. Se os parágrafos anteriores deste texto não foram percebidos como uma completa ironia que simula todo o chorume estereotipante que se escreve – e que se impõe – sobre mulheres por aí, volte muitas casas no jogo da vida.

E mais: se você não consegue aproveitar a diversidade de mulheres ao seu redor para fazer amizades e conhecer coisas novas sem necessariamente uma transação sexual estar embutida nessa troca de ideias, o problema é seu ao se frustrar com uma expectativa não correspondida – e não delas. Você não é o cara legal que imagina ser caso acredite que sexo é uma recompensa obrigatória a ser dada para todos os que não tratam mal uma mulher. Enxergar mulheres primordialmente pela ótica de uma possível foda é deprimente pra vocês, que em 2017 ainda não perceberam que existimos para além disso, e desumanizante pra nós, que temos toda nossa subjetividade reduzida a esse tipo de coisa o tempo todo. Inclusive, acho muito estranha essa concepção masculina de querer planejar tudo previamente, como se estivesse montando uma armadilha, e não buscando viver um momento agradável e natural, que envolva ou não algo mais.

Nessas horas que a gente vê como a coisa tá feia: alguns caras acham que, só por ouvirem o que uma mulher tem a dizer, merecem uma condecoração. E o pior é quando reclamam da falta desse tipo de reconhecimento, como se fosse um sacrifício muito grande lidar com uma mulher ou como se fosse humilhante demais sair um pouco do papel grosseiro que a masculinidade impõe, não sei.

Se tem uma dica séria que posso dar é: não sigam dicas. Repense a sua relação com o sexo feminino e procure, dentro de você, o que pode estar te afastando das mulheres. Um amigo, dia desses, comentou que se ficasse solteiro, seria impossível ficar com alguém de novo, pois não consegue nunca conversar com uma mulher – elas sempre ficam bravas! No mesmo dia, ele havia julgado publicamente a aparência de várias minas e reduzido a tristeza de uma colega a “problemas com homem”. Não é difícil entender o porquê de as mulheres ao redor dele ficarem com raiva…

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allyson gutchell // allysongutchell.tumblr.com

E muitas dicas sobre ~como conversar com mulheres~ que li pela internet afora apenas disseminam estereótipos baratos sobre o sexo feminino (“ela vai gostar de você por causa do seu carro”, por exemplo) e ensinam táticas de manipulação, negging e outros tipos de abusos psicológicos e emocionais. Sabe como é, a gata não pode “se achar” muito, argh. A insegurança masculina é tão grande, que o ideal para muitos é diminuir a das mulheres também. É esse tipo de relação que você quer estabelecer com uma pessoa, mesmo? Dominar uma mulher não é conversar com ela – uma conversa é uma via de mão dupla.

Muitas vezes, mulheres percebem essas táticas de antemão, e se afastam. Ou percebem, mesmo quando não conseguem explicar muito bem, que tem algo de errado na forma que um cara fala sobre e com mulheres. Ou simplesmente não querem nenhum tipo de conversa e aproximação – e isso acontece com todo mundo, de todos os sexos, gêneros, orientações, sério, não apenas com rapazes. Antes de julgar, analise se já não fez o mesmo. Me parece muito mais comum homens sequer valorizarem o que uma mulher que não os atrai (ou que não está “disponível”) tem a dizer do que o contrário. E tem mais: mulher alguma tem a obrigação de disponibilizar tempo para outras pessoas quando ela não está afim. E homens precisam parar de achar que podem perturbar a paz de uma mulher em qualquer lugar e situação, mesmo sem contexto algum.

Por isso, quanto menos apego às fantasias e estereótipos sobre mulheres, mais fácil conversar com elas. Assim como os homens, mulheres são seres complexos, que possuem vários interesses e vontades. Ser uma pessoa mais aberta, sincera, com um timing maneiro e que realmente converse com outras, e não que apenas busque uma escada para a superioridade pisando em cabeças alheias, pode trazer muitas surpresas. Amores, amizades e até mesmo sexos casuais brotam em locais inesperados. E uma coisa eu garanto: ainda que existam muitas diferenças entre as pessoas, todas gostam de ser tratadas com humanidade. É bizarro ter que explicar isso.