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IT’S MY PARTY AND I WILL CRY IF I WANT TO

De acordo com os tilelês, hoje é dia de mais uma volta ao redor do sol ou algo parecido. As pessoas alegres celebram mais um ano de vida e os pessimistas menos um. Sim, hoje é meu aniversário. E por mais que eu tenha tentado pagar de blasé algumas vezes, dizendo coisas tipo “oh, não ligo para datas comemorativas”, a verdade é que eu ligo sim. Somos ensinados a viver de uma forma tão emocionalmente contida (algo que eu orgulhosamente me recusei a aprender), que vejo de forma positiva algumas das válvulas de escape que as pessoas usam para transmitir bons sentimentos umas às outras (claro que em uma sociedade capitalista todos esses rituais são cooptados – e até mesmo inventados – em prol do consumo, mas essa é outra questão).

Essa é, aliás, uma das partes interessantes de ficar mais velha: começar a perceber (e assumir) o que realmente gosta ou não, o que quer ou não, sem tanta interferência da necessidade de pertencer a um grupo ou manter uma imagem. Quero dizer, conheço pessoas bem mais velhas do que eu que ainda vivem muito atreladas às engrenagens dos mecanismos da vida social e de um pretenso status e não as julgo (mentira, julgo sim, heh). De qualquer forma, acho que todos ficamos mais sábios a medida que acumulamos experiências e refletimos sobre elas.

No entanto, é esquisita a sensação de completar vinte-e-muitos-anos. Todo mundo gosta de lembrar o tempo inteiro que estou mais perto dos trinta que dos vinte anos, como se isso fosse algo assustador. Cada vez mais produtos e procedimentos de beleza são insinuados como necessários. Cada vez mais coisas são esperadas de mim, sendo que mal consigo me referir a mim mesma como “mulher”. Na minha cabeça, “mulheres” sempre foram aquelas pessoas de salto, com filhos, emprego, marido, roupas bem passadas, dotes culinários e sem crises existenciais. Sim, por um tempo eu comprei a ideia da ~mulheridade~ como algo totalmente heteronormativo e castrante, afinal, é isso que nos empurram o tempo todo, não?

E eu, vejam bem… Eu trabalho. E cozinho muito bem. Mas vivo de tênis sujo, roupa amassada, não sei se quero ~constituir família~ e estou sempre por aí, chafurdando na lama da existência. Guardo culpas, mágoas, rancores e tristezas. Tenho ataques de pânico. Fico muito feliz com coisas banais. Canto alto e faço danças ridículas. Me angustio por querer construir algo significativo e não apenas ser uma mera reprodutora de ideias alheias. E não consigo, de forma alguma, assimilar o conceito de vida adulta que me foi apresentado, embora, meu deus, eu seja uma adulta. Uma mulher. Não digo essas coisas me achando única e especial. Sei que a sensação de inadequação é comum e constante em um monte de gente. Não tem como ser diferente vivendo em uma sociedade que vende tanta crueldade e desumanização como sinônimo de sucesso.

Sinto falta de me jogar de peito aberto no mundo e acreditar no melhor das pessoas. O passar dos anos me tornou cínica e desconfiada. Desmontei caixas e certezas de tal maneira que as tênues fronteiras entre dominação e amor, amizade e interesse, preto e branco ou gases, infarto e ataque de pânico me parecem cada vez mais borradas. No entanto, as desconstruções me fizeram também aprender com os meus erros – o que não quer dizer que eu não os cometa mais – e com as histórias dos outros. Experimentei relações, problematizei comportamentos, moldei minha rudeza, exercitei a empatia. E pensei mais em mim.

Essa é uma nova fase. Que eu espero que seja de descobrimento, redescobrimento e canalização de forças e energia. Ainda que sejamos todos seres errantes buscando sentido para coisas que talvez estejam além da nossa compreensão humana, temos o agora para lidar. E o agora pode ser bom. Que eu aprenda a viver o presente com menos angústia e as batidas aceleradas do meu coração se convertam em suaves tum-tuns.

(E você aí, que me lê: obrigada! Ser lida está entre os meus planos e desejos ocultos – mas esse nem é tão oculto assim, né?)

riotsnotdiets