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DEZ COISAS QUE NÃO CAUSAM ESTUPRO

O estupro é uma violência que possui dois lados. A sociedade trata a questão como um crime horrível, pelo menos na teoria e se a situação envolver uma “vítima perfeita”. No entanto, uma simples lida nos jornais diários mostra os inúmeros casos de crianças, adolescentes e mulheres sendo estupradas por familiares, amigos, desconhecidos, colegas de trabalho ou conhecidos da igreja, faculdade, balada, entre outros (pena que a abordagem no geral é tão sensacionalista e pouco profunda nas raízes da questão). Pessoas do sexo masculino são as que mais cometem esse tipo de agressão e pessoas do sexo feminino são as que mais sofrem – o que não impede que existam situações em que violências sexuais ocorram seguindo outro roteiro.

A discussão sobre o assunto acontece por vários meios, informalmente ou de modo organizado. Porém, muitos preconceitos e simplismos acabam sendo disseminados nesse debate, e questões importantes são deixadas de lado. Por isso, vou abordar aqui neste post as dez hipóteses mais estúpidas entre as que já li como as possíveis causas de estupro (mas existem muito mais), e propor uma conversa mais centrada na realidade: a culpa é sempre do estuprador. E ponto final.

1) Roupa curta não causa estupro

Isso é um consenso que feministas estão cansadas de repetir: a mulher tem o direito de usar a roupa que quiser. Pode ser um vestido rosa e curtinho, tipo o da Geisy Arruda, biquíni grande ou fio dental, burca, camiseta larga, shortinho, saia longa ou qualquer outro tipo de vestimenta. Achou o look feio, bonito, atraente, repulsivo, muito descolado ou super brega? Problema seu. Se você for homem, deixe esse espírito de predador sexual com pinceladas de crítico de moda no armário, porque roupa não justifica agressão. Se for mulher, não jogue pedras nas outras para provar o próprio valor ou achar que isso vai te proteger de alguma coisa (spoiler: não vai). E a tentativa de encontrar alguma desculpa que tire a culpa do estuprador e transfira para a roupa da vítima é uma forma de naturalizar não apenas o comportamento violento do homem, mas a ideia de que respeito é algo que a mulher deve “merecer” para ter. Sem contar que pessoas usando todos os tipos de roupa aqui citados já foram estupradas, o que mostra que o problema está muito além de qualquer vestimenta.

2) Bebidas ou drogas não causam estupro

Muita gente acha que uma mulher alcoolizada ou sob efeito de drogas “merece” ser estuprada. Aposto que, alguma vez na vida, você já ouviu alguém falar que “cu de bêbado não tem dono”, não é mesmo? Se as pessoas começassem a frequentar botecos e baladas com o intuito de buscar homens bêbados para serem empalados com cabos de vassoura, isso não seria uma violência terrível? No entanto, por que mulheres na mesma situação são estupradas com o aval da sociedade? Pessoas bebem ou consomem substâncias para se divertir, afogar as mágoas, por vício, depressão ou outros motivos, e você não precisa concordar com isso – dá para problematizar o uso de álcool e drogas por um ângulo de saúde pública ou do tráfico, por exemplo. Mas culpar uma vítima de estupro que estava entorpecida é, mais uma vez, defender o estuprador e a ideia de que homem é um animal descontrolado.

No mais, uma pessoa viciada precisa de ajuda, uma pessoa dormindo precisa de sono e uma pessoa com a consciência alterada não consegue responder por si mesma. De novo: desliga aí o suposto instinto predador, homem, porque sexo nessas condições não é ‘sexo fácil’, é estupro mesmo (caso sua empatia falhe ainda assim, aqui vai mais um incentivo: e é crime). E se você tem impulsos agressivos e violentos quando usa alguma coisa (ou não), procure ajuda (ou se tranque em casa, obrigada). Ah, vale lembrar que alguns caras colocam sedativos na bebida de mulheres ou as obrigam a inalar substâncias entorpecentes também – algo que, somado à violência sexual que sucede tais práticas, contabiliza uma dupla quebra de consentimento.

3) Ruas pouco movimentadas também não causam estupro

Vários fatores tornam a rua um ambiente inseguro para mulheres: homens, primeiramente, e coisas como iluminação ruim, falta de movimento e de segurança, demora no transporte público e outros itens que as colocam em situação de vulnerabilidade. Portanto, o ideal é que sejam elaboradas estratégias de educação e segurança pública que tornem a rua um espaço menos hostil para pessoas do sexo feminino. Tenho uma fantasia que envolve um toque de recolher para homens até que eles, enquanto categoria, se eduquem, rs. Mas tô brincando. Queria mesmo era um monte de poste, gente e ônibus pra todo lado e, principalmente, pessoas com a consciência humana aflorada.

E vale lembrar que a ideia do estupro como algo que só acontece em um local ermo, com um cara ameaçando a mulher com uma faca, não é necessariamente o retrato fiel da situação: muitos algozes estão dentro da casa da vítima ou nas redondezas, o que significa que ~tomar cuidado por onde se anda~ não é sempre o necessário para evitar uma agressão sexual (mas a gente toma mesmo assim).

4) A falta de uma ~bola de cristal~ não causa estupro

Algumas vítimas são cobradas por não terem se preparado para enfrentar a agressão sexual e escutam coisas como: “mas por que você não gritou?”, “devia ter saído correndo”, “não percebeu que ele ia chegar perto de você?”, “você não anda com spray de pimenta na bolsa?”, “por que ficou sozinha em casa com ele?”, “não sabia que isso podia acontecer?” e etc. Frases do tipo não fazem o tempo voltar, cada pessoa tem uma reação diferente quando está em perigo e existem casos em que não é muito seguro reagir a uma situação de violência (e não tem como saber, de antemão, quais). Não vamos cair, mais uma vez, na armadilha de culpar quem não tem culpa. No caso de estupros cometidos por amigos, parentes ou vizinhos, como a vítima iria descobrir as reais intenções de homens, teoricamente, “de confiança”? E se a violência for cometida por um estranho em um local inusitado ou em uma situação inesperada, como a vítima poderia adivinhar? E tem mais: nem sempre um estupro acontece de forma explícitamente agressiva. Cada caso é um caso – e o que todos possuem em comum é que a culpa não é da vítima. E não existe uma bola de cristal capaz de prever quando um estupro pode ocorrer.

5) Crise ou pobreza não causam estupro

Lembram quando o responsável pela Secretaria de Segurança de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho, falou que a crise econômica tem a ver com estupro, porque o cara acaba ficando frustrado demais, sem emprego, bebendo e cometendo esse tipo de coisa?  Isso é uma estratégia que busca voltar o debate público para a criminalização de pessoas pobres, e não para a busca de soluções efetivas para os problemas que as mulheres enfrentam. Breaking news: filhinhos de papai que nunca precisaram sequer pensar em trabalho também estupram. Jovens universitários de classe média também estupram. Autoridades de governo também estupram. Cantores famosos também estupram. Filhos de donos de grupos de comunicação também estupram. Sabe o que não estupra? Ah, essa pergunta eu deixo no ar…

Essa relação entre pobreza e violência já foi desmistificada pelas ciências sociais há pelo menos três décadas. A socióloga feminista Helleieth Saffioti bem dizia que a violência contra a mulher é extremamente democrática porque ela atinge a todas as classes sociais.

Um homem que perde o emprego não é um estuprador em potencial. Homens numa sociedade patriarcal são estupradores em potencial porque têm uma certa legitimidade social (ainda que não legal) para violar os direitos de uma mulher, violar sua integridade e sua dignidade, seu corpo e sua vida. O que acontece em geral é que nas classes altas, a violência contra a mulher e o estupro são escondidos sob um manto de hipocrisia e dupla moral, onde não se registra, não se denuncia e não se expõe homens ricos, homens de altos cargos, frente a suas práticas violentas. Existe um silêncio e uma impunidade brutal com um professor universitário, um juiz, um político – o que não acontece com um pedreiro, um motorista de ônibus ou um trabalhador das classes populares, por exemplo.

Izabel Solyszko, feminista, assistente social, professora e doutora em Serviço Social pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Leia mais opiniões de especialistas aqui. 

6) Funk não causa estupro

Esse é outro argumento que tenta colocar pessoas negras e pobres como as únicas culpadas por agressões sexuais. O objetivo, mais uma vez, não é o bem-estar de mulheres, mas calar a cultura que surge na periferia, encarcerar essas pessoas e criar uma diferenciação entre os “homens de bem e civilizados” e os estupradores. No entanto, a lista de astros do rock que cantam letras machistas de música – e/ou estupraram adolescentes e mulheres  – é grande, por exemplo. Não precisa nem ser um astro, o meio independente está cheio desses exemplares também. Música popular brasileira, música brega, sertanejo, música pop… Se a gente cavar, acha coisas problemáticas em todos os estilos. Não estou dizendo que não existam funks machistas e com letras horríveis, ou funkeiros com comportamentos questionáveis, só quero chamar atenção para o fato de que isso não é exclusividade do gênero – que, como todos os outros, tem partes ruins e boas.

Existe um machismo no funk que não é exclusivo no funk. É que sua linguagem é muito direta em relação a tudo. Não há floreio, a batida é reta, seja para falar de amor, sexo e violência. É sempre uma linguagem muito direta, o papo reto, como dizem. Com o machismo, não é diferente. E existe uma reação escancarada a ele. Com as mulheres falando de sua liberdade sexual, da escolha de parceiros, sobre o que fazer com o corpo e exercitar seu desejo. E elas abordam todos esses assuntos em um ambiente masculino, como é o da música popular — ressalta Adriana [Facina, antropóloga e professora da UFRJ], que destaca a ascensão das mulheres dentro do cenário funk nos últimos anos. Leia mais aqui.

7) Não é a falta de armamento que causa estupro

Mais uma vez, a pauta conservadora tenta cooptar os debates feministas. Alguém realmente acha que é assim que as coisas vão ser resolvidas? A jornalista Nana Queiroz pesquisou o assunto e constatou o que a gente já imaginava: essa não é a solução. Muitos estupradores são pessoas próximas, o fator “surpresa” dos ataques dificulta a ação, mulheres são socializadas para serem mais passivas e, quando em ambientes violentos, assimilam aquela situação como normal, entre vários outros fatores. Leia a matéria aqui.

Uma sociedade toda armada mas carregando os mesmos valores de sempre vai resultar em um constante tiroteio, gente. Só isso. Antes de qualquer coisa, temos que começar grandes campanhas nacionais para discutir sobre papeis de gênero e afins. E, de acordo com a jornalista, “a maioria dos casos de estupro à brasileira não é fruto de problemas de segurança pública, mas de uma cultura machista que prega um poder do homem sobre a mulher. O crime de estupro tem uma característica no Brasil: a cifra negra. A expressão ‘cifra negra’ significa que um número muito pequeno de ocorrências de um determinado crime chega ao conhecimento das autoridades. Deste já pequeno número, uma ínfima parcela chega ao conhecimento do judiciário, e uma menor ainda resulta em condenações”.

8) ~Excesso de libido~ masculina não causa estupro

Não é o ~excesso de desejo~ masculino que faz com que as mulheres sejam estupradas (aliás, engraçado como são as feministas as que mais batem na tecla de que os homens não são “animais irracionais” e as mais acusadas de vê-los como tais). A sexualidade do ser humano é um terreno complexo e envolve mais do que a mera vontade de transar. Existe toda uma construção de ideias anterior ao ato sexual – e à violência sexual também – que faz com que o sexo seja algo que vai muito além dos órgãos genitais. Portanto, propostas que envolvem a castração química, por exemplo, vindas de pessoas que querem impedir que a sociedade discuta e debata questões de gênero, ainda por cima, estão muito mais perto de algum tipo de fetiche com violência e tortura do que de empatia com vítimas de estupro.

Em uma reportagem do Uol, o psiquiatra Danilo Baltieri, coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC, afirma que o termo “castração química” é, inclusive, mentiroso. O que ocorre, na realidade, é uma diminuição de impulsos sexuais. Porém, o interesse continua. “Em casos de estupradores não é apenas uma questão orgânica que importa, o problema também é ‘intelectual’. É claro que a castração não cura, não transforma a ideologia. Mesmo se não tiver ereção, o agressor pode praticar violência sexual de outras maneiras”. Leia a matéria completa aqui 

9) Vida sexual ativa não causa (nem justifica) estupro

Vamos deixar uma coisa bem clara: sexo é o encontro de corpos que se desejam mutuamente. Se não existe consentimento de alguma parte, é estupro. Mesmo que esses corpos já tenham se desejado mutuamente em alguma ocasião anterior, é preciso que o acordo seja reafirmado a cada novo encontro. E se esses corpos já estiveram com outros corpos, não significa que vão querer estar com todo mundo que aparecer pela frente. Tem homem que acha que mulher é igual máquina de refrigerante: se ela já transou com ele ou com outras pessoas alguma vez na vida, ele tem direito a refil automático. Não é assim mesmo. Sexo não é uma obrigação, e sim uma escolha autônoma.

Tem gente que diz coisas tipo “ah, mas ela nem era virgem” e eu sempre fico meio chocada, me perguntando em que século pessoas assim vivem. Vasculhar o passado sexual de vítimas de estupro é reafirmar o corpo da mulher como público e violável. Essa imposição histórica não é natural e, por isso, a luta que busca construir a equidade de gênero e destruir a misoginia (que tem bases profundas na inferiorização do corpo do sexo feminino) é fundamental. E tem mais: mulheres não dizem não querendo dizer sim. Não é não, e não importa o que elas já fizeram antes na cama (ou no chão, no sofá, na barraca de camping ou na areia).

10) Estupro não tem nenhuma justificativa aceitável, na verdade

Falamos em ~construção social~ com o intuito de não essencializar comportamentos ruins, porque acreditamos na possibilidade de humanidade em vocês, homens (algo que, infelizmente, não parece recíproco em muitos momentos). Logo, não acreditamos que um rapaz nasça automaticamente querendo fazer mal às mulheres e sim que ele cresce absorvendo mensagens diversas — da religião à pornografia, passando por esferas como arte, medicina, música, ambiente de trabalho e outros — onde uma hierarquia sexual existe e ele precisa reforçar a própria masculinidade, bem como estreitar laços com outros caras e demarcar seu papel de ‘poderoso’ (no âmbito do controle do espaço público e dos corpos femininos pelo menos) por meio de práticas que inferiorizem e subjuguem o sexo feminino. Por isso, nós, mulheres, precisamos urgentemente do reconhecimento de que somos humanas também.

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Crédito: Eduardo Valente

E se fosse haver algum apelo ou alguma questão nesse grito, seria essa: por que vocês são tão lentos? Por que vocês demoram tanto para entender as coisas mais simples – não as ideologias complicadas. Vocês entendem essas. Mas as coisas simples, os clichês. Que as mulheres são humanas precisamente no mesmo degrau e qualidade que vocês são.

(…) O poder exercido pelos homens no dia a dia é um poder institucionalizado. É protegido por lei. É protegido pela religião e pela prática religiosa. É protegido pelas universidades, que são fortalezas da supremacia masculina. É protegido pela polícia. É protegido por aqueles que Shelley chama de “os legisladores não reconhecidos do mundo”: os poetas, os artistas. E contra todo esse poder, nós temos silêncio.

É uma coisa extraordinária tentar entender e confrontar o motivo pelo qual os homens acreditam – e eles acreditam – que eles têm o direito de estuprar. Eles podem não acreditar quando perguntados diretamente. Quem aqui acha que tem o direito de estuprar, por favor levante a mão. Poucas mãos vão subir. Mas é na vida que os homens acreditam que têm o direito de forçar sexo – que eles não chamam de estupro. E é algo extraordinário tentar entender que homens realmente acreditam que têm o direito de bater e de machucar. E é igualmente extraordinário tentar entender que homens realmente acreditam que têm o direito de comprar o corpo de uma mulher para fazerem sexo – e que isso é o seu direito. E é também surpreendente tentar entender que os homens acreditam que essa indústria de 7 bilhões de dólares, que traz vaginas para as suas vidas, é algo a que eles têm direito.

(…) Eu acho que, se você quer olhar para o que o sistema faz com você, então é aqui que você deveria começar: as políticas sexuais da agressão, as políticas sexuais do militarismo. Os homens estão com medo dos outros homens. Isso é algo que muitas vezes vocês tentam discutir em grupos pequenos, como se, caso mudassem suas atitudes uns com os outros, deixariam de sentir medo.

Mas enquanto sua sexualidade tiver relação com agressão, enquanto seu senso de direito sobre a humanidade significar ser superior a outras pessoas – e tem tanto desprezo e hostilidade nas suas atitudes com mulheres e crianças – como vocês podem não ter medo? Eu acho que vocês percebem, corretamente, mesmo sem conseguir lidar com isso de forma política, que homens são perigosos: porque vocês são.

Andrea Dworkin. Trechos de discurso feito em 1983, intitulado “Eu quero 24 horas sem estupro”. Leia aqui.

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Grimes dá dicas para mulheres que querem (ou precisam) chefiar

A Tavi Gevinson – editora do fofíssimo site para adolescentes Rookie – vai lançar esse mês uma publicação editada por ela (“Rookie Yearbook Three”) que conta com a contribuição de diversas artistas sobre vários assuntos. A revista Elle publicou trecho de dicas dadas pela Grimes – ou Claire Boucher, artista canadense de vinte e poucos anos que começou a bombar em grande escala já faz uns três anos, produzindo as próprias músicas praticamente sozinha – sobre como ser chefe. São dicas simples, mas que achei interessantes por verem a dificuldade que muitas meninas e mulheres têm quando precisam se impor. E são dicas que valem não só pra quem é da música: se você vende comida de forma autônoma, elabora estampas e vende camisetas em loja virtual, gerencia alguma loja física, é fotógrafa, escritora ou tem qualquer outra relação com criação e/ou algum tipo de empreendimento, você vai precisar gerenciar serviços de outras pessoas. Por isso, traduzi (não sou nenhuma expert, perdoem qualquer erro) o texto, que vem a seguir. Aqui está o link original (em inglês).

Grimes, por Colin Kerrigan

Grimes, por Colin Kerrigan

Algo que eu não percebi quando comecei a fazer música foi que qualquer empreendimento empresarial envolve contratar pessoas, criar uma empresa e se tornar um empresário. Então, enquanto você provavelmente me conhece como artista, na prática eu sou também uma chefe. Sou a CEO de duas empresas, Grimes Creative Corp e Fairy Tour Corp, e acabei de começar a Roco-Prime Productions com o meu irmão. Isso é simultaneamente muito legal e muito estressante. Eu definitivamente não sou a melhor ou a mais experiente chefe. E sou também uma jovem chefe do sexo feminino, o que pode trazer um conjunto muito particular de desafios práticos e emocionais. Compilei aqui uma lista de coisas que têm sido úteis para mim enquanto venho tentando aprender como estar no comando, na esperança de que alguma delas possa ajudar qualquer uma de vocês que estejam fazendo o que estou fazendo (ou seja, “aprendendo enquanto faz”):

  • Você nunca vai ouvir tantas pessoas dizendo que você está errada quanto quando você está sucedendo. Depois que o meu álbum “Visions” foi lançado, eu gastei um tempo realmente longo enlouquecendo porque as pessoas estavam me dizendo que, para dar o “próximo passo” na minha carreira, eu precisaria me tornar uma “música” muito melhor, precisaria de uma banda de apoio, etc. Agora percebo que (a) nenhuma dessas pessoas têm carreiras musicais e (b) eu desperdicei muito tempo tentando fazer coisas que me disseram que eram “importantes para todo músico profissional”, sem perceber que, enquanto fã, eu sempre fui muito mais interessada em coisas que eu nunca tinha visto antes. O ponto é que escutar os haters é inútil. As pessoas julgam tudo – muitas vezes porque se sentem ameaçadas. Ignore-as. Acho que isso se aplica a todo negócio ou coisa criativa, porque o mundo de amanhã não vai se parecer com o de hoje. Fazer algo diferente é provavelmente melhor do que fazer as mesmas coisas que as outras pessoas fazem.
  • Pule corda. É a forma mais eficiente de obter exercício cardiovascular em qualquer tipo de clima, sem ir à academia. Exercícios são muito importantes se você está lidando com depressão ou raiva – e qualquer trabalho na indústria do entretenimento causa ambos.
  • Pare de trabalhar quando você estiver cansada – mas não fique com preguiça. Eu às vezes oscilo entre trabalhar 22 horas seguidas, entrar em colapso e perceber que eu não tenho que aderir a um horário fixo, e assistir todos os episódios de Os Sopranos. Eu não sugiro este sistema. Horários planejados são surpreendentes: oito horas de trabalho, oito horas de sono. As outras oito horas são de uso livre (ainda não sou mestre nisso, mas quando consigo botar em prática me torno muito mais produtiva).
  • Agarre-se em seu trabalho. Certa vez, Elvis Presley quis gravar um cover de “I Will Always Love You”, da Dolly Parton, mas com a condição de que metade dos royalties de difusão – dinheiro que o compositor recebe sempre que alguém toca ou performa sua canção em público – ficassem pra ele. Dolly disse que não e, muitos anos depois, Whitney Houston cantou “I Will Always Love You” em um filme, e essa provavelmente se tornou uma das canções mais memoráveis ​​(e lucrativas) de todos os tempos. Portanto, é muito importante manter a posse de sua propriedade intelectual. Coloque direitos autorais em tudo. NÃO SE ESQUEÇA DE FAZER ISSO. Você pode se ferrar de tantas maneiras se não reivindicar os direitos autorais de seu trabalho. Por outro lado, trate seus colaboradores com respeito e dê a eles o dévido crédito.
  • Seja gentil com as pessoas que trabalham com você. É de extrema importância tratar as pessoas com gentileza, porque você quer que elas trabalhem com empenho e se preocupem com as coisas que vocês estão construindo juntos. No entanto, para que as coisas sejam feitas, às vezes você precisa ser má. Eu sou muito ruim nisso, mas é absolutamente necessário que as pessoas saibam quando algo é inaceitável, ou elas vão continuar fazendo isso e você vai ficar ressentida, o que irá gerar vibrações ruins.
  • Leia/assista biografias de pessoas que você admira. Eu aprendi mais com esta prática do que com qualquer outra coisa, sério. Além disso, se você está perto de alguém que faz o que você quer fazer, faça perguntas e veja de perto o trabalho da pessoa.
  • Bette Midler disse uma vez: “acredito firmemente que com um calçado adequado, se pode governar o mundo”. Eu costumava tentar usar saltos, e foi um desastre. Agora sempre priorizo sapatos confortáveis. Além disso, evite usar branco: pessoas ocupadas não têm tempo para trocar de roupa com frequência, e branco suja rápido (a menos que você seja Olivia Pope). Basta encontrar uma ou duas roupas que pareçam legais e que você possa também dormir com elas.
  • Evite namorar com alguém que faz o mesmo trabalho que você. Se você acabar fazendo isso, certifique-se que a pessoa não ressente o seu sucesso e nem você o dela.
  • Tente namorar com uma pessoa que seja boa na cozinha. Isso vai poupar tempo.
  • Se você está cansada e precisa ser enérgica, beber um pouco de molho de pimenta realmente funciona.
  • Mantenha caneta e papel ao lado de sua mesa de cabeceira. Boas ideias muitas vezes surgem quando você está caindo no sono, e você não vai se lembrar delas de manhã.
  • Só porque alguém tem mais qualificações do que você não significa que essa pessoa é melhor do que você. Vivemos na era da tecnologia, então você pode googlar tudo que não souber fazer. A única coisa que você não pode googlar é como ser original e criativa. Seus pensamentos têm mais valor do que um diploma ou pai/mãe no mesmo campo de atuação ou qualquer outra coisa. Sempre penso no meu avô, que se tornou um engenheiro com apenas a sétima série concluída. É uma coisa muito clichê de se dizer, mas quase tudo é possível se você programa sua mente pra isso.
  • De verdade, a coisa mais importante é eliminar a falta de confiança em si mesma. Isso é basicamente impossível para mim, mas descobri que se eu agir como chefe, eu posso me convencer de que eu sou uma chefe quando preciso ser uma. Copio coisas que já vi políticos e atores fazendo; faço contato visual com as pessoas; tento manter os ombros para trás e cabeça erguida; gesticulo e, por vezes, faço longas pausas (silêncio pode ser muito intimidante). Tento agir como se eu fosse poderosa, no palco e fora dele. Sou, muitas vezes, tratada com desrespeito, mas respondo da forma mais respeitosa que eu puder, porque quando você não tropeça, isso faz com que os trolls pareçam estúpidos. Conforme o tempo vai passando, tenho notado que as pessoas ruins foram gradativamente sumindo e estou cada vez mais cercada por pessoas que confio e que compartilho respeito mútuo – o que, por sinal, gera confiança real.

Já que estamos falando da Grimes, uma curiosidade que se encaixa com o tema do post: o clipe acima foi feito com pouquíssimo dinheiro e dirigido por ela mesma:

Esse foi um vídeo com verdadeiras influências K-pop. O orçamento, de $60, foi todo em álcool. Nós literalmente planejamos ele na noite anterior. Eu só reuni algumas amigas para beber muito e foi tipo “nós vamos fazer movimentos de dança”. Fizemos o vídeo em algumas horas. Eu quase não me importava em como o vídeo ficaria; só queria que parecesse que todo mundo estava se divertindo. Eu queria também que fosse um pouco assustador, por isso tem o lance das coisas pra trás.

(Trecho retirado dessa entrevista – em inglês)

E você aí? Esperando o quê? Junta azamiga, estufa o peito, pede ajuda no que for preciso e tira do papel aquele plano que você achou que nunca daria certo! Se você já toca algum projeto, muita força e continue assim. O mundo também é nosso! ❤